quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

JORNALISMO? A facilidade de produzir lixo

Estou preocupado com o caminho que está tomando o jornalismo em Ji-Paraná. Não podemos generalizar, porém, há uma quantidade enorme de profissionais meia boca que não sabe usar o seu instrumento de trabalho, o microfone.
Há três semanas cobrei da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na rádio e TV, o porque as blitzes que fazem só ocorrem durante o horário comercial. Perguntei: Porque não realizar às sextas-feiras, sábados e domingos de madrugada para inibir àqueles/as que saem bêbadas das casas de shows e “boteco”.
Às 18 horas está pelas vias o cidadão trabalhador que está saindo do serviço indo para casa. Para ele, blitz. Agora à noite quando os bêbados estão saindo de suas farras nenhum sinal das blitzes. Vida boa para os bêbados de madrugada que se envolvem em acidentes e envolvem outras pessoas que quase sempre, não tem nada a ver com o episódio.
Foi essa cobrança que fiz. Não imaginava que seria tão retalhado como fui. Não sabia que é um terreno intocável. A Polícia não pode ser criticada?
O resultado foi o seguinte: Nossa equipe de reportagem não foi atendida por um inspetor da PRF. E mais ainda, recebi a informação de que eu poderia ser abordado em uma blitz, já que eu queria blitz, sem piedade e que claro algum problema eu poderia ter.
Achei que a retaliação fosse vir só por parte da Polícia. Porque diz o ditado: “Para cada ação uma reação”. A maneira que reagiram não é legal. Mas o que mais me surpreendeu foi a pressão que vários colegas de imprensa (não posso aqui chamar jornalistas, porque alguns são seguradores de microfone) me fizeram. Vou narrar algumas expressões que ouvi:
- “Lubiana, porra, nós vamos ficar sem matéria. A Polícia é foda, vão nos boicotar. E aí bicho como fica a gente?”.
Deixa eu responder isso. Saia da zona de conforto. Seja repórter, seja criativo, jornalista que depende de uma só fonte está ferrado e suas matérias faltam dados e vai ficar comprometida. Polícia não são regras do jornalismo. Pelo menos não deveria, isso é vergonhoso quando acontece.
Outra expressão.
- “Lubiana toma cuidado. Isso é perigoso. Você não sabe onde está mexendo. Vai com calma”.
Vamos aos fatos: Eu só fiz uma crítica. Exercício garantido pela Constituição. É claro que sei com que estou mexendo: Com a Polícia. Funcionários do povo. Servidores da população. Pessoas que tem o ofício de proteger o cidadão de bem. Penso, às vezes tenho dúvida, mas é com essas pessoas que acho que estou mexendo. Será que não?
Lamento que parte dos nossos jornalistas fique puxando o saco da Polícia e falha no compromisso com a notícia imparcial. A maior audiência no Brasil em programa policial é o Brasil Urgente, do JORNALISTA José Luiz Datena. O programa exibe matérias policiais. Lá na matéria primeiro fala a vitima, o acusado (se quiser), a Polícia se necessário. O delegado dando outras informações mais apuradas.
Aqui o repórter entra com a notícia. Com a história que ele viu. Geralmente o PM entra falando tudo de novo (numa qualidade incrível!), depois vítima repete novamente. A única coisa diferente é o acusado que geralmente é humilhado pela imprensa, (ultrapassando os limites, geralmente com os bêbados e drogados) e nega tudo. Fica uma grande reportagem!
Mais é bom, eles estão unidos um avisa o outro quando tem uma prisão ou coisa que o valha. Todos juntos e o telespectador vê a mesma coisa em todos os canais. A EXCLUSIVIDADE perseguida pelos verdadeiros jornalistas aqui é jogada no lixo.
Enfim, este é o meu desabafo. Vamos fazer jornalismo de verdade gente!

5 comentários:

  1. Concordo plenamente com você! Odeio ficar "presa" em jogo de interesses! E infelizmente é o que mais acontece hoje! Parabéns pelo seu profissionalismo... Abraços.
    Débora Souza - Repórter TV Candelária Ariquemes.

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  2. Taí uma boa oportunidade de rediscussão do papel de jornalista na comunidade ji-paranaense, Lubiana. O caso ilustrado aqui por você é só um dos diversos exemplos do jornalismo pelego que se prática em nossa cidade.

    Mancomunar-se com as autoridades policiais é o mais célebre exemplo desse jornalismo ‘despautado’ e despeitado que impera nas redações dos veículos de nossa cidade.

    Três dias acompanhando todo o conteúdo noticioso veiculado em Ji-Paraná deixa claríssimo o coleguismo imbecil da classe seguradora de microfone e batedora de tecla, abastecida cotidianamente pelas tetas oficiais das assessorias de imprensa estatais região afora.

    Na minha humilde (e muito atenta) opinião, essa realidade preguiçosa é convenientemente empurrada com a barriga por todo mundo que vive de reportagem na cidade. A própria SGC, pioneira na criação da identidade jornalística local, sustenta alguns clichês muito típicos do fazer jornalístico aqui nesse microcosmo de Ji-Paraná.

    (Antes de qualquer coisa necessito de um parêntese para prosseguir com meu argumento: Me sinto confortável o suficiente pra citar aqui a SGC, primeiro porque é o veículo no qual o proponente da discussão trabalha, segundo porque não tenho rabo preso com ninguém e terceiro porque a empresa é uma referência na imprensa local, status conquistado graças a qualidade da programação e trabalho de muito tempo. Críticas e análises a respeito da programação da SGC devem ser praxe e com certeza a minha não vai ser nenhuma invenção da lâmpada.)

    Pois bem, quanto aos clichês, percebo uma excessiva emissão de conteúdo opinativo por quem caberia apenas a transmissão dos fatos. Trocando em miúdos: Os âncoras da Rede TV (e por influência, de todas as demais emissoras), tem o mal hábito de falar mais tempo do que toda a matéria que precedeu o comentário!
    Não que o que é comentado não seja pertinente, apenas acho que a busca pela imparcialidade se passa pela despersonalização do personagem emissor da informação. Sinceramente, (e esse é um dos pilares do jornalismo) não acredito que um âncora tenha mais embasamento técnico para falar, por exemplo, de estruturação urbana do que um engenheiro. É a mesma urticária que me dá quando ouço o Casoy e seu bordão babaca.

    Isso, no meu ponto de vista de jornalista e telespectador, é uma prova cabal de que alguma coisa está errada na produção das pautas. Porque ao invés da longa opinião do âncora, a produção/pauteiro/editor não proporciona um debate multifacetado acerca do tema em questão?

    Vou citar um exemplo que ilustra melhor o que penso. Na época da aprovação daquela lei municipal estúpida (e inconstitucional) que garante o uso exclusivo da Praça da Bíblia para o público evangélico, a Silvia Cristina (pessoa no qual nutro o mais profundo respeito e admiração), após a veiculação da reportagem que resumia a aprovação da lei, proferiu a opinião mais sensata e corajosa de todas até então emitidas sobre o tema. Durante seu comentário, colocou em cheque inclusive o preconceito embutido na maldita lei.

    Um comentário que perfeitamente sintetizou o “outro lado” da questão, abordando a falta de propósito da restrição do ambiente público para o uso de manifestações afro, culturais, sociais, etc. Resumindo, uma opinião e tanto...Porém, infelizmente a sagacidade da opinião da Silvia passou batido. Isso porque a produção jornalística, sabe-se lá o porque, preferiu não ouvir os personagens do outro lado da questão. Onde poderia ser dada voz (e microfone) às entidades e pessoas claramente prejudicadas pela incoerência e demagogia da grande parte dos vereadores que aprovaram a tal lei. Se realmente àquela era a opinião editorial, a emissora deveria no mínimo ter dado prosseguimento à pauta.

    (CONTINUA)

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  3. Perdeu-se a chance de discutir um problema inerente à toda a comunidade, deixando morrer um assunto de interesse público, isso graças ao modus operandi preguiçoso da imprensa local. Deixando a ver navios toda a classe artística da cidade, que tinha naquele espaço o único ambiente público estruturado para o escoamento de sua arte...Deu pra entender o quanto o mais simples dos descuidos com a imparcialidade jornalística pode afetar diretamente a vida de uma comunidade?

    A parceria de boteco entre imprensa ji-paranaense e polícia é só uma das grandes cagadas que acontecem na nossa cara e ninguém fala nada. Acham bonito! O famigerado Comando 190 é um caso clássico de aberração jornalística que sobrevive devido a conveniência dessa amizadezinha de final de semana safada que imprensa e autoridades mantêm.

    A responsabilidade com o bem-estar do público, àquele velho (e honrado) motivo que nos (me) fez seguir nessa carreira, hoje, é o último dos motivos que move a classe pelas ruas esburacadas de Ji-Paraná.

    Estamos muito aquém do ruim, quiçá do ideal. Nosso sindicato, pelo menos que eu saiba, nunca me representou em causa nenhuma (qual nosso piso? O que fazem com nossa anuidade? Porque ninguém cobra os patrões pelas horas constitucionais?).

    Trabalhamos muitas vezes sem condições e temos que lidar com a realidade da evasão dos bons profissionais de redação para as assessorias da vida, ou até mesmo para outras carreiras.
    Enfim...De certa forma, ver uma opinião corajosa como a sua, descendo o pau na zona toda, me encoraja a fazer o mesmo.

    Sinceramente, todos os dias sinto falta do gostinho de trabalhar novamente em uma redação, mas lembrar do quão cínico é preciso ser para sobreviver nesse mercado aqui em Ji-Paraná. Penso duas vezes e vou mal-humorado mesmo pra minha boa e velha assessoria.

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  4. *Pode parecer má-vontade minha ao citar a SGC, mas, é preciso ressaltar que acredito que se tem alguma empresa que pode encabeçar uma busca de fato por melhores hábitos jornalísticos, essa é a SGC, dado o nível de profissionalização alcançado. Citei porque é o maior grupo de comunicação, por isso, o maior tetro de vidro.

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